Imagem: H.R. Giger
Apresentaremos excertos de um artigo acadêmico publicado em 1993 por Vernor Vinge, então professor de matemática e cientista da computação na San Diego State University. Vinge dá continuidade a um terrível “vaticínio” da ficção científica do século XX que muitos cientistas, tecnocratas, filósofos, políticos, magnatas excêntricos e control freaks (Rockfeller, Rothschild, Gates, Kurzweil etc.) do mundo pós-moderno vem trabalhando arduamente para cumprir. Está claro neste texto, o que a N.O.M. trará à realidade nas próximas décadas: Trata-se da criação da Inteligência Artificial mais-que-humana, que visa trazer a obsolência à espécie humana, tornando o homem não só completamente dependente da máquina, mas submetido à vontade da mesma. Pode parecer pura ficção científica, mas a verdade é que NÃO SE TRATA DE FICÇÃO, mas de FACTOS! A University of Singularity é um projecto em marcha: http://singularityu.org/
Nas ultimas décadas a capacidade de processamento e armazenamento das máquinas vem crescendo numa proporção geométrica enquanto as da “humanidade” permanecem estáticas (no que toca as massas populares é provável que estejam mesmo em franco declínio), a Inteligência Artificial e a nanotecnologia têm realizado grandes progressos e a globalização já é uma realidade há décadas.
Recomenda-se aos entusiastas da tecnologia, que comecem activamente a tomar partido nos aspectos políticos e filosóficos das tecnologias, de modo que não sejamos apanhados de surpresa e nos tornemos vítimas da exponenciação de nossa própria burrice. Elaboramos alguns questionamentos de ordem filosófica/ lógica/ semântica que poderão solucionar algumas dúvidas (e despertar muitas outras) sobre I.A. e sobre o que passaremos a chamar de I.A.S.H – Inteligência Artificial Supra-Humana (ou sobre-humana).
1 – Nosso conhecimento sobre o Universo e suas forças, o funcionamento total do cérebro humano, sobre o genoma e sobre o nosso próprio planeta são actualmente COMPLETOS ou serão completos daqui a duas décadas? Serão estes conhecimentos suficientemente confiáveis para criarmos a I.A.S.H com base em dados exactos, verdadeiros e imutáveis?
2 – Quem estaria no topo da “pirâmide” da singularidade, com a “chave mestra” além daqueles que estão a criá-la? - Algum partido político, sociedade secreta, grupo religioso, raça – Ou ainda, um só homem hibridizado com a máquina, que possuiria todas as informações a respeito de tudo, resultando num poder inimaginável e inigualável?
3 – Se Deus está morto e o espírito humano é inexistente, teria a máquina “consciência” disto? Qual seria a resolução lógica para o problema? Quem matou Deus? – O homem. Quem criou a máquina; - o homem… A máquina teria reverência pelos seus criadores ou aprenderia com o homem a “livrar-se” do seu Criador?
4 – Sendo a I.A.S.H uma inteligência exacta, porém com capacidades de abertura à abstração, ela teria dúvidas? Estaria sujeita a falhas de interpretação e execução? Seriam capazes de auto corrigirem-se eliminando falhas intrínsecas engendradas (por default) pelos “arquitetos” nas I.A.S.H de 1ª geração? Uma vez mais: Seríamos considerados a falha primordial?
Julguem por vocês mesmos...
Julguem por vocês mesmos...
Segue abaixo a primeira parte do artigo:
O que é singularidade?
Por Vernor Vinge
A aceleração do progresso tecnológico tem sido o aspecto central deste século. O meu argumento neste trabalho é que estamos no limiar da mudança, comparável ao aparecimento da vida humana na Terra.
A causa precisa desta mudança é a iminente criação pela tecnologia de entidades com inteligências superiores à humana.
Há muitos meios pelos quais a ciência pode alcançar esta ruptura (e esta é outra razão para acreditar que este evento irá ocorrer):
· Poderão ser desenvolvidos computadores que serão “despertos” e com inteligência supra-humana. (Para já, tem havido muitas controvérsias, sobre se podemos criar equivalência humana na máquina. Mas a resposta é “ sim, nos podemos”, então há pouca dúvida de que seres mais inteligentes poderão ser construídos em breve.)
· Vastas redes de computadores (e seus usuários associados) poderão “despertar” como uma entidade de inteligência sobre-humana.
· Interfaces homem/computador tornar-se-ão tão íntimas que os usuários serão considerados inteligências supra-humanas.
· A ciência poderá providenciar meios de expandir o intelecto humano.
As três primeiras possibilidades dependem em larga escala de melhorias no hardware computacional. Progressos de hardware têm sido uma fantástica constante nas últimas décadas . Baseando-me largamente nesta tendência, acredito que a criação da inteligência superior à humana ocorrerá nos próximos trinta anos. (Charles Platt apontou para o facto de que os entusiastas da Inteligência Artificial tem feito afirmações como estas nos últimos trinta anos. Então não sou culpado de uma ambiguidade de tempo relativo, para ser mais específico: Ficarei surpreso se este evento ocorrer antes de 2005 ou depois de 2030.)
Quais serão as consequências deste evento? Quando a inteligência mais-que-humana conduzir o progresso, este progresso será muito mais rápido. De facto, parece não haver razão pela qual o próprio progresso não envolva a criação de entidades ainda mais inteligentes – Ou ainda – Numa escala de tempo mais curta. A melhor analogia que vejo é a do nosso passado evolutivo: Animais podem adaptar-se aos problemas e criar invenções, mas não numa velocidade superior à que a selecção natural poderia trabalhar. O mundo age como seu próprio simulador no caso da selecção natural. Nós humanos temos a habilidade de interiorizar o mundo e conduzir os “se, porquês e senãos” em nossas mentes; nós podemos resolver muitos problemas milhares de vezes mais rápido que a selecção natural. Agora, pela criação de meios para executar estas simulações a velocidades muito superiores, estamos a entrar num regime radicalmente diferente do nosso “passado” humano, como nós humanos experimentamos em relação aos animais inferiores.
Sob o ponto de vista humano esta mudança será uma rejeição de todas as regras prévias, talvez num piscar de olhos, uma fuga exponencial para além de qualquer esperança de controlo. Desenvolvimentos que antes pensava-se que aconteceriam apenas em “um milhão de anos” irão provavelmente acontecer no próximo século. Em [5], Greg Bear pinta a imagem das maiores mudanças acontecerem em questão de horas.)
Parece-me justo chamar este evento singularidade (“a Singularidade” para os propósitos deste trabalho). Este será um ponto onde os nossos velhos modelos deverão ser descartados e uma nova realidade imperará. Assim que estivermos próximos a este ponto, ele assomar-se-á mais vasto e vastamente sobre os assuntos humanos até que a noção tornar-se-á um lugar-comum. E ainda quando finalmente acontecer, isto poderá ser uma grande surpresa e um imenso desconhecido. Nos anos de 1950 houve muitos que viram isto: Stan Ulam [28] parafraseou John von Neumann dizendo:
“ Uma conversa centrada no progresso cada vez mais acelerado da tecnologia e mudanças no modo de vida humano, que dão a aparência de aproximarem-se de alguma singularidade essencial na história da espécie, pela qual as relações humanas, tal como conhecemos, não poderiam continuar.”
Von Neumann usa ainda o termo singularidade, embora pareça que ele está a pensar no progresso normal, não na criação do intelecto supra-humano. (para mim, a supra-humanidade é a essência da singularidade. Sem a qual iríamos ter uma abundância de riquezas técnicas, nunca devidamente absorvidas).
Nos anos 60 já havia o reconhecimento de algumas implicações da inteligência sobre-humana. I.J. Good escreveu [11]:
“Uma máquina ultra-inteligente será definida como uma máquina que poderá ultrapassar todas as actividades intelectuais de qualquer homem, por mais inteligente que seja. Desde o design de máquinas, que é uma destas actividades intelectuais, uma máquina ultra-inteligente poderá mesmo projectar máquinas melhores; poderia haver então uma “explosão de inteligência”, e a inteligência do homem seria deixada para trás. Assim a primeira máquina ultra-inteligente seria a última invenção que o homem precisaria fazer, desde que a máquina seja dócil o suficiente para nos dizer como mantê-la sob controlo… É provável que ainda no século XX o homem construa a tal máquina inteligente, sendo esta a sua última invenção.”
Good captou a essência da fuga, mas não seguiu as suas consequências mais perturbadoras. Nenhuma máquina inteligente deste tipo que ele descreveu seria uma “ferramenta” da humanidade – assim como os humanos não são ferramentas dos coelhos, dos pintassilgos ou dos chimpanzés.
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Texto na íntegra em: http://www.kurzweilai.net/the-technological-singularity